Miolo v.3 (2022)
Produzida em meio à pandemia, por uma equipe voluntária de estudantes (graduação e pós-graduação), docentes e artistas, A Miolo v.3 foi publicada em parceria com a Duna Editora e é reflexo do desejo de tensionar os limites físicos, técnicos e conceituais da experimentação na produção de periódicos. Uma revista-escola na qual, à cada novo ciclo, ensina-se e aprende-se enquanto propostas editoriais ganham materialidade. Por se tratar de uma publicação experimental que busca imergir profundamente em questões conceituais das linguagens artísticas contemporâneas, o projeto editorial da Miolo tem o desafio de conciliar sua proposta metodológica (“aprender fazendo”) com um acabamento gráfico que chame o inesperado. Neste sentido se beneficia dos diálogos que surgem nas práticas editoriais coletivas da fabricação lenta de cada volume.
Como encarnar ideias? (por Lia Cunha)*
Aprender a ser essa matéria aglutinadora, esse corpo que gera e recicla as energias propulsoras de acontecimentos em “um processo curatorial cuja função é fazer prosseguir encontros”
Curar coletivamente com Arissana Pataxó, Cynthia Cy Barra, Lara Marques, Lia Krucken e Manoela Barbosa, através de poéticas do encontro, em modo oficina, acompanhadas por uma equipa tão rica quanto diversa.
Equilibrar possibilidades, criar mundos. Especificidades da produção gráfica — como a busca de soluções perante as limitações orçamentárias e cores disponíveis no parque gráfico local para impressões com a técnica risográfica — somadas a um interesse por investigações poéticas autorais em design e o desejo por conduzir composições compartilhadas posicionaram a equipe que trabalhou na diagramação como intérpretes, que, como em uma peça musical, emprestam o seu corpo e subjetividades para performar textualidades.
Buscar intimidade com os trabalhos, como foi a leitura selvagem a partir de escritos de Diane Lima, que viraram quase imagem.
Aprender a exercitar a escuta para não estancar os fluxos, fazer ecoar discursos pluridiversos na elaboração de narrativas de continuidade da vida.
Acolher os imprevistos para tecer essa trama editorial “como uma prática artística em sí, cuja performatividade na detenção dos meios de produção e circulação é mais relevante do que seus resultados gráficos”
Apontar interesses de um modo flexível — com os lançamentos do texto-flecha e a carta das curadoras. Essa escuta se mostrou imprescindível para acolher os trabalhos da chamada aberta, nos quais muitas vezes latejavam questões muito atuais relacionadas ao momento delicado de recolhimento que estamos vivendo com a pandemia. Como lidar com o que estamos passando?
Acreditar que as textualidades criam mundos.
Procurar acessar sabedorias ancestrais indígenas e afro-brasileiras, “estabelecer diálogos criativos com entes mais-que-humanos”5, através de literaturas e oralituras. Entender a arte como uma tecnologia da magia — magia não como um termo generalista e estereotipante, mas como ferramenta para “encantamento de mundos”
Experimentar processos horizontais de troca de conhecimento, explorar as possibilidades de fluidez entre as funções de estudante, autora, curadora, editora, oficineira, artista, professora … Mudar as posições, alternar as perspectivas. No encontro construímos paisagens, criamos mundos e nos transformamos enquanto criaturas.
Como em nossa capa, que a partir da fotografia de Marina Alfaya projeta constelações inventadas, “incorporar a ideia de difração como uma alternativa ao conceito de reflexão como sinônimo para pensamento”.
E, assim, com Marina Alfaya, Leleco, Taygoara Aguiar, Diane Lima, Ane Kethleen Pataxó, Ezequiel Vitor Tuxá, Laura Castro, Zulmira Correia, Isadora Stähelin, Deisiane Barbosa, Felipe Caires, Lucas Feres, Lucas Lago, Marcelo Terça- Nada, Orlando Maneschy, Carmen Palumbo, Goli Guerreiro, Sabrina Sabris, Ana Pedrosa, Rita Carelli, Bruna Carvalho, Cynthia Cy Barra, Lia Krucken, Saulo Tomé, Isabella Coretti, Glicéria Tupinambá, Tiago Ribeiro, Aju paraguassu, Iansã Negrão, João Milet Meirelles, Mahal Pita e Marcela Bonfim criamos essa “comunidade de poemas”
Esses são alguns dos desafios que apresentam a feitura de uma revista construída no infinitivo. Publicação- -processo porque aprendemos a construir a embarcação enquanto navegamos em alto-mar, na errância. A revista como um “livro- -vivo”9, um corpo-testemunha dos processos no qual não propomos reencenações gráficas, mas onde se inscreveram nossas vivências.
“O resto se inscreve em nós”
*extraído do editorial da Miolo v.3 (2022)
Produção colaborativa:






Direção de arte e coordenação editorial:
